quarta-feira, 7 de julho de 2010

A morte não pega carona, cobra pedágio!

Hoje eu estava assistindo à televisão enquanto almoçava quando passou uma matéria sobre uma família que vive em um cemitério. E vivem disso também, vendendo caixões, arrumando os defuntos... uma beleza!

Daí me aparece a velha, matriarca da família, exibindo com orgulho o caixão queela comprou há 16 anos, falando: "olha como é macio". A repórter ainda tem a coragem de perguntar o que a morte significa para esta senhora.

Primeiro que era só olhar na cara da velha e ver que a morte nem sempre é tão pontual assim. Ela respondeu que era algo comum, do dia-a-dia. Eu na hora vociferei: "significa dinheiro, sobrevivência". E o Jair que o diga!

Jair é o nome do responsável pelo crematório que já há algum tempo paguei pelos serviços. Sou contra a cultura do cemitério, acho bárbara aos dias de hoje, com a sociedade moderna, exprimida e ecologia comprometida. Por ser caro, resolvi pagar quando a única pessoa que se preocuparia com isso passava por problemas financeiros.

Acontece que vira e mexe eu acordo com o telefone tocando no meu ouvido e quando atendo adivinhem: "Oi Tiago, é o Jair, tudo bem?" Imaginem como você acorda né... o cara simplesmente te liga para saber se está tudo bem!

No dia que assinei a papelada ele frisou inúmeras vezes: "não se esqueça de avisar seus pais que você pagou um serviço de crematório, muitos não avisam e são enterrados, perdendo o dinheiro". Lembro de ter respondido que perder eu não ia e quando ele rebateu dizendo que meus pais perderiam, brinquei que era o preço de nunca ter compreendido a cultura do filho.

Pago por ser linguarudo até hoje. O cara só não morre de medo que eu morra sem ter contado à minha mãe porque ele quer estar vivinho para me cremar. Parece não ver a hora... o pior é que ele sempre me liga bem cedo! Não há uma vez no trimestre que eu não seja recordado pelo Jair que posso morrer à qualquer momento e, por isso é muito importante eu avisar os meus pais.

Aprendi desde então que morrer pode ser não apenas doloroso, rápido, desesperador e até mesmo humilhante, mas pode ser também, demasiadamente chato e, é por isso que, viver é mais interessante, ainda que não para todos!

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